07 outubro 2009

Maratona de Berlin

20/09/2009 - Uma data para nunca mais ser esquecida
Fotos oficiais, compradas, aguardando as originais..
Era apenas uma idéia maluca, de aproveitar as férias e esticar até Berlin, para uma corridinha, claro que para mim seria um sonho, correr a tão famosa Maratona de Berlin, mas não sei se seria a mesma coisa para minha esposa. Ela acabou aceitando, e foram mais de um mês de treinamento, já que vinha na seqüência da de São Paulo e Rio de Janeiro. Nesta queria que fosse diferente, queria realmente fazer um bom tempo, e treinei com mais afinco, chegando a picos semanais de 90 km/semana. Usei inclusive o Desafio do 600 km da Nike como parte do treinamento. Este ano a 36. Edição, comemorou-se os 20 anos da queda do muro de Berlin, o lema era "Um mundo sem fronteiras..." Chegamos a Berlin, com quatro dias de antecedência, e lá vamos aos passeios e mais passeios, e como poderia ficar parado numa cidade tão linda? Tão cheia de histórias? Logo a idéia de tempo começou a fugir, chegávamos ao hotel no fim da noite, exaustos, com as pernas doendo de tanto caminhar por Berlin, minha vontade de correr bem a Maratona estava na minha cabeça, mas o desejo de conhecer Berlin, era maior. Sexta-feira a primeira parte da prova, ir a feira buscar o kit, e eu me sentia uma criança no meio de tantos produtos e tantos outros corredores, como era gostoso respirar aquele ar pré-prova, que era tão evidente em toda cidade, onde andasse era pessoas comentando que teria uma Maratona no domingo, com mais de 40.000 corredores, que bom saber que eu seria um destes, mesmo que apenas um na multidão. Sábado à noite preparo todo o equipamento, Nike +, Garmin, camisa, short etc., vamos a um restaurante e faço questão de pedir uma massa, já que precisava de carbodraito. Domingo de manha acordamos bem cedo, tudo preparado, tomo meu café, não do jeito que sempre tomo claro, não estava em casa, e acabo tomando mais chocolate do que estou acostumado. Pegamos o metro e fomos como era legal ver a cada estação entrar mais e mais corredores, tomando todos os vagões, em pouco tempo, estava lotado, com gente de tudo que era pais, seus idiomas, camisas e expectativas. Chego perto da largada e vejo o que e uma prova destas, muita gente, mas muita mesmo, e separo da minha esposa indo para o espaço reservado aos corredores. Sinto umas pontadas na barriga, e imagino, dor de barriga logo hoje não, acredito que o excesso de chocolate não me fez bem, resolvo encarar uma filinha ao banheiro para tirar as duvidas, e aqui uma decepção, apesar de tantos banheiros, não eram suficientes para tão grande multidão de corredores. Gastei quase 40 minutos para chegar ao habitáculo azul. Quando vou a minha raia, que são divididas por tempo, descubro que fui inscrito na raia errada, na G, sairia com o pessoal com tempo acima de 4h15, sendo que na do Rio, tinha feito em 4h11, e o pior, teria de sair bem no finalzão devido a minha demora no cubo azul. Fazer o que, estava em enfim, estava em Berlin, céu azulaço, não e frio aqui? Cadê meus 15 graus? Naquela altura já estava uns 20 e poucos, acho que estou no lugar errado, no meio de uma multidão enorme, mesmo com uns ruídos estranhos vindo da minha barriga, a emoção era gigante, estava em Berlin, só esperando a hora da largada, lá na frente, bem lá na frente estava o Haile Gabriliese, o único homem no mundo que conseguiu correr uma Maratona em menos de 2h04, e cá trás este lerdão, com dor de barriga, preocupado neste momento em apenas conseguir terminar a prova. Nove horas em ponto começa a prova, balões amarelos são soltos, imagino nesta hora o Haile, saindo com tudo e eu aqui, parado no meio da multidão, são mais de 15 minutos desviando de garrafas, agasalhos e capas plásticas, deixadas por pessoas que esperavam os 15 graus, mas já contávamos com mais de 20, agora sim, passei no portal da largada, vou procurando na multidão o rosto de minha esposa, para mostrá-la a minha surpresa, mas são tantas pessoas, gritando, batendo palmas e não consigo achá-la, acho que a surpresa vai ficar para o final. Quando ligo o Garmin, que tão cuidadosamente carreguei no Brasil, recebo a mensagem, bateria fraca como? Carreguei-o, não usei, não aguentou nem 5 minutos e foi-se agora teria de correr sem saber a velocidade, minha estratégia foi para o espaço, teria de correr sentindo meu corpo, mas não tinha treinado para isto, e sim correr num pace de mais ou menos 5:35/km. São muitas pessoas, as primeiras ruas são bem largas, mas as ultrapassagens requerem muito cuidado, para não derrubar os corredores a sua frente, do seu lado, ou que vem atrás, é necessário um jogo de cintura tremendo, os espaços são muito pequenos, mas assim foi durante um bom tempo, jogo o corpo pra cá, pra lá, e vou ultrapassando, soltando uns sorry, toma uma cutevalada aqui outra acolá, o esforço é grande para ultrapassar, fico assim por mais de uma hora, já foram mais de 12 km, resolvo desistir, e seguir o ritmo da multidão, neste momento o sol é pleno, e a sensação térmica é de uns de 25 graus, well, sou um corredor baiano, acostumado com o sol, que venha o astro rei. Minha barriga ainda continua mandando sinais constantes ao meu cérebro, e ao meu ouvido, fico pensando se teria de parar para ir ao banheiro, os quais eram constantes em todos postos de água, não queria parar e perder o ritmo, que nem sei a quanto estava. Os pontos históricos iam passando que cidade linda, não sabia que a Berlin, de tantas historias, era tão bonita, mesclando prédios históricos com prédios modernos, e a torcida? Como imaginava o tempo todo gritando e de onde veio tanta gente? Em todos os quilómetros filas dos dois lados, e a todo momento gritando, batendo palmas ou fazendo barulho com instrumentos. Isto é um show a parte, que faz a diferença. Como não se sentir motivado? Lembrava-me das Maratonas de Curitiba, São Paulo e Rio, que fora uns gatos pingados em alguns determinados pontos, eram uma longa e solitária corrida, que a nossa única torcida era os próprios amigos corredores. Claro que não preciso de torcida, corredor é na sua natureza um lutador solitário, que luta consigo mesmo, com suas dores, com suas limitações e aspirações, entretanto, ver gente ao redor gritando a todo o momento é uma motivação a mais. Aqui em Berlin e em San Diego era diferente, talvez a própria cultura, sei lá o real motivo que leva estes malucos, a ficar gritando horas e horas, não sou elite, passava com o dobro do tempo do Haile, e eles continuavam gritando, onde conseguiam tanta motivação? Depois de vários monumentos, chego aos 30 km, o calor é muito forte, caminhões espirram água nos corredores, os postos de água são bem disputados, mas mesmo assim é muita gente correndo, é impressionante, não vejo quase ninguém andando, e começo a imaginar quando vira o urso para pegar uma carona nas minhas costas, o meu ritmo já diminuiu, as pernas já começam a ficar pesadas, mas pela primeira vez, vejo que é possível vencer os 42.195 metros sem caminhar. E vou brigando psicologicamente comigo , pensando, vamos Sérgio, só mais um quilometro, só mais um, e assim vão, um atrás do outro. Hora que vejo já estou no quilometro 40 , sinto dores em varias partes do corpo, imagino que maratonista gosta de sofrer mesmo, que sou um masoquista, que tenho de aguentar mais um pouco, que depois dali, seria só férias e água fresca, que estaria no mar Egeu passeando pela terra de Hércules, e outros heróis gregos, força... Quando vejo o Portão de Brandenburgo, ai não tem mais jeito, tiro a surpresa que estava no bolso para minha esposa, e esqueço o que é cansaço, esqueço tudo, tento me segurar, a emoção é forte demais, é a minha 5° Maratona, mas o gosto não muda, o gosto da vitória, de mais uma vez ter superado os tão temíveis 42.195 metros, lembro que minha Lorena esta me esperando, a lágrimas tentam sair dos meus olhos aos ver toda aquela torcida na arquibancada gritando, mesmo depois de 4 horas, corro fazendo ziguezague entre os fotógrafos postados, com a faixa na mão, Eu te amo Lorena, passo o Portão de Brandenburgo, o Portão da Vitória, ai já era, sou 5 vezes maratonista. Berlin fica pra sempre no meu coração, ver toda aquela organização germânica, aquela torcida maluca, gritando a todo o momento, as muitas bandas no caminho, e encontrar minha esposa no final, e depois partir para umas merecidas férias, foram três Maratonas em menos de 70 dias, pra muitos nada, pra mim um grande feito...

4 comentários:

Felipe Taves Barreto disse...

Maneiro o teu relato, parabéns!!!

Jorge Cerqueira Souza Filho disse...

Parabéns Sérgio pela sua saga em Berlin, cara sua mente é fantástica hein, detalhou tudo...Agora lendo aqui no seu blog e em outros blogs, vejo muitos corredores elogiando o GARMIN, mais toda hora vejo relatos e ouço de corredores falando que a bateria do GARMIM não funcionou, não sei pq eles não fizeram esse GARMIM como os outros de bateria sem precisar carregar.
Bom então acho que nós vamos se encontrar aqui no Rio no dia 25 out né, pois vi que vc vai participar dos 600K.
Boa semana e bons treinos,

Um abraço,

Jorge Cerqueira
www.jmaratona.blogspot.com

José Alberto disse...

Muitos parabéns por mais esta maratona concluída, e com um excelente tempo.

Parabéns, também, pelo relato da prova e pela maneira entusiástica como o fez.

Continue com força.

Abraço

José Alberto

Anônimo disse...

Ai vai meus parabens como ultramaratonista a todos os maratonistas participantes da Maratona de Berlin aproveito para mandar sites www.runnersworld.abril.com.br click notas corridas/blogcorreria comente as noticias e envie tambem www.ultrarunnereventos.net www.zonaalvo.com.br www.corredoresdorecife.com.br click sites de corridas. Atenciosamente Elivan(ciclista/Ultramaratonista natural de Bananeiras/Pb residente em Joao Pessoa